Do humilde monge e
presbítero João Damasceno, discurso para o nascimento de Nossa Senhora
Santíssima, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria.
1. Vinde, todas as
nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as
condições: com alegria celebremos a natividade da alegria do mundo inteiro! Se
os gregos destacavam com todo o tipo de honras – com os dons que cada um podia
oferecer – o aniversário das divindades, impostos aos espíritos por mitos
mentirosos que obscureciam a verdade, e também o dos reis, mesmo se eles fossem
o flagelo de toda a existência, que deveríamos nós fazer para honrar o
aniversário da Mãe de Deus, por quem toda a raça mortal foi transformada, por
quem o castigo de Eva, nossa primeira mãe, foi mudada em alegria? Com efeito,
uma ouviu a sentença divina: «Darás à luz no meio de penas»; a outra ouviu, por
seu turno: «Alegra-te, oh Cheia de Graça». À primeira disse-se: «Inclinar-te-ás
para o teu marido», mas à segunda: «O Senhor está contigo». Que homenagem
ofereceremos então nós à Mãe do Verbo, senão outra palavra? Que a criação
inteira se alegre e festeje, e cante a natividade de uma santa mulher, porque
ela gerou para o mundo um tesouro imperecível de bondade, e porque por ela o
Criador mudou toda a natureza num estado melhor, pela mediação da humanidade.
Porque se o homem, que ocupa o meio entre o espírito e a matéria, é o laço de
toda a criação, visível e invisível, o Verbo criador de Deus, ao se unir à
natureza humana, uniu-se através dela a toda a criação. Festejemos assim o
desaparecimento da humana esterilidade, pois cessou para nós a enfermidade que
nos impedia a posse dos bens.
[...]
4. Hoje é edificada a
Porta do Oriente, que dará a Cristo «entrada e saída», e «essa porta estará
fechada». Nela está Cristo, «a Porta das Ovelhas», e «o Seu nome é Oriente»:
por Ele obtivemos acesso ao Pai das Luzes. Hoje sopraram as brisas anunciadoras
duma alegria universal. Alegre-se o céu nas alturas, que debaixo dele «exulte a
terra», que os mares do mundo bramam, porque no mundo acaba de ser concebida
uma concha, a qual pelo clarão celeste da divindade conceberá em seu seio,
gerando a pérola inestimável, Cristo. Dela sairá o «Rei da Glória», revestido
da púrpura de sua carne, para «visitar os cativos», e «proclamar a libertação».
Que a natureza transborde de alegria: a cordeirinha vem ao mundo, graças à qual
o Pastor revestirá a ovelha, tirando-lhe as túnicas da antiga mortalidade. Que
a virgindade forme os seus coros de dança, pois nasceu a Virgem que, segundo
Isaías, «conceberá e dará à luz um filho, que será chamado Emmanuel, o que quer
dizer "Deus connosco"». Aprendei, oh Nestorianos, e fugi à vossa
derrota: «Deus connosco»! Não é nem só um homem, nem um mensageiro, mas o
Senhor em Pessoa que virá e nos salvará.
«Bendito o que vem em nome do Senhor», «o Senhor é Deus, e
iluminou-nos»; «Celebremos uma festa» para o nascimento da Mãe de Deus.
Rejubila, Ana, «estéril que não davas à luz; ri de alegria e de júbilo, tu que
não tiveste as dores de parto»! Rejubila, Joaquim: de tua filha «um menino nos
nasceu, um filho nos foi dado (...) e ser-lhe-á dado este nome: Anjo do grande
Conselho (quer dizer, Salvação do Universo) Deus Forte». Que Nestório fique
vermelho e meta a mão sobre a boca. A criança é Deus; portanto, como não seria
ela a Mãe de Deus, ela que O colocou no mundo? «Se alguém não reconhece por Mãe
de Deus a Santa Virgem, está separado da divindade». A frase não é minha, mas
no entanto pertence-me: recebi-a como precioso tesouro e herança teológica do
meu pai Gregório, o Teólogo.
[...]
Eu te saúdo, Maria, filha dulcíssima de Ana. De novo para ti o
amor me impele. Como descrever o teu caminhar cheio de seriedade, os teus
vestidos, a graça de teu rosto, a maturidade do discernimento num corpo
juvenil? A tua forma de estar foi modesta, distante de todo o luxo e de toda a
indolência; o teu caminhar era grave, sem precipitação, sem preguiça; o teu
carácter era sério, temperado de júbilo, de uma perfeita reserva a propósito
dos homens – disto é testemunho a inquietação que te surgiu aquando da proposta
inesperada do anjo. A teus pais dócil e obediente, tinhas humildes sentimentos
nas mais altas contemplações, palavra amável, provinda de uma alma pacífica. Em
resumo: que outra digna morada senão tu para Deus? Com razão todas as gerações
te proclamam bem-aventurada, oh glória insigne da humanidade! Tu és a honra do
sacerdócio, a esperança dos cristãos, a planta fecunda da virgindade, porque é
através de ti que o renome da virgindade se estendeu aos confins do mundo.
«Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o Fruto do teu ventre». Aqueles que
confessam a tua maternidade divina são benditos, e malditos aqueles que a
negam.
11. Joaquim e Ana,
casal abençoado, recebei de mim estas palavras de aniversário. Oh filha de
Joaquim e de Ana, oh Soberana, acolhe a palavra deste teu servo pecador, mas
inflamada pelo amor, e para quem tu és a única esperança de alegria, a
protectora da vida e, junto de teu Filho, a reconciliadora e firme garantia da
salvação. Possa tu aliviar-me do fardo dos meus pecados, dissipar a névoa que
obscurece o meu espírito e o peso que me agarra à matéria. Possas tu deter as
tentações, governar felizmente a minha vida e conduzir-me pela mão até à
felicidade do Alto. Concede ao mundo a paz, e a todos os habitantes ortodoxos
desta cidade uma alegria perfeita e a salvação eterna, pelas orações de teus
pais e de todo o Corpo da Igreja. Assim seja, assim seja! «Salve, oh cheia de
graça, o Senhor está contigo! Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o
fruto de teu ventre», Jesus Cristo, o Filho de Deus. A Ele a Glória, com o Pai
e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.
FONTE: AGNUSDEIWEB