São Clemente de Alexandria (150-c. 215), teólogo
Homilia «Que rico será salvo?», 39-40
«Os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos
no Reino de Deus»
As portas estão abertas a todo aquele que, em sinceridade e
de todo o coração, se voltar para Deus, e é com alegria que o Pai recebe um
filho verdadeiramente arrependido. Qual é o sinal do arrependimento verdadeiro?
Não voltar a cair em velhos erros e arrancar do coração, pela raiz, os pecados
que nos punham em perigo de morte; quando estes estiverem apagados, Deus virá
habitar-nos. Porque, como diz a Escritura, um pecador que se converte e se
arrepende dará ao Pai e aos anjos do céu uma imensa e incomparável alegria (Lc
15,10). Foi por isso que o Senhor disse: «Eu quero a misericórdia e não os
sacrifícios» (Os 6, 6; Mt 9,13); «Não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim
na sua conversão» (Ez 33,11); «Mesmo que os vossos pecados sejam como
escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve. Mesmo que sejam vermelhos como a
púrpura, ficarão brancos como a lã» (Is 1, 18).
Só Deus, de facto, pode remir os pecados e não imputar
erros, ainda que o Senhor Jesus nos exorte a perdoar, em cada dia, aos irmãos
que se arrependem. E se nós, que somos maus, sabemos dar coisas boas aos outros
(Mt 7,11), quanto não será capaz de dar «o Pai das misericórdias» (2Cor 1,3)? O
Pai de toda a consolação, que é bom, cheio de compaixão, de misericórdia e de
paciência por natureza, espera os que se convertem. E a verdadeira conversão
supõe que deixemos de pecar e que não olhemos mais para trás […]. Lamentemos
amargamente, pois, os erros cometidos e peçamos ao Pai que os esqueça. Ele
pode, na sua misericórdia, desfazer o que foi feito e, com o orvalho do
Espírito, apagar as nossas faltas passadas.