São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia,
bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
3ª Homilia sobre a inscrição dos Actos dos Apóstolos; PG
51,87
A leitura das Sagradas Escrituras é um prado espiritual e um
paraíso de delícias, bem mais agradável do que o Paraíso de outrora. Deus não
plantou este paraíso na terra, mas nas almas dos fiéis. Não o plantou no Éden
nem no Oriente, num local específico (Gn 2,8), mas espalhou-o por todo o mundo,
até aos confins da terra habitada. E, uma vez que compreendes que ele espalhou
as Sagradas Escrituras por toda a terra habitada, escuta o profeta que diz:
«Por toda a terra caminha o seu eco, até aos confins do universo a sua palavra»
(Sl 18,5; Rom 10,18). […]
Este paraíso também tem uma fonte, como o de outrora (Gn
2,6.10), fonte de onde nascem inúmeros rios. […] Quem o diz? O próprio Deus,
que nos dá todos estes rios: «Do seio daquele que acredita em Mim correrão rios
de água viva, como diz a Escritura» (Jo 7,38). […] Esta fonte é incomparável,
não apenas pela sua abundância, mas também pela sua natureza; com efeito, dela
não jorram rios de água, mas os dons do Espírito. Esta fonte divide-se por
todas as almas dos fiéis, mas não fica por isso diminuída: divide-se, mas não
se esgota. […] Inteira em nós e inteira em cada um: tais são, com efeito, os
dons do Espírito.
Queres saber qual é a abundância destes rios ? Queres saber
a natureza destas águas? Em que é que elas são diferentes das águas aqui da
terra, porque são melhores e mais magníficas? Escuta novamente Cristo, quando
fala com a Samaritana, e compreenderás a abundância da fonte: «Porque a água
que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente de água a jorrar para a vida
eterna» (Jo 4,14). […] Também queres conhecer a sua natureza? Utiliza-a! Na
verdade, ela não é útil para a vida aqui na terra, mas sim para a vida eterna.
Passemos, pois, o nosso tempo neste paraíso: sejamos convidados a beber desta
nascente.