A luz que vem das estrelas,
Diz — pertence-lhes a elas?
O aroma que vem da flor,
É seu? Dize, meu amor.
Problemas vastos, meu bem,
Cada cousa em si contém.
Pensando claro se vê
Que é pouco o que a mente lê
Em cada cousa da vida,
Pois que cada cousa, enfim,
É o ponto de partida
Da estrada que não tem fim.
Perante este sonho eterno
Falar em Deus, céu, inferno…
Ah! dá nojo ver o mundo
Diz — pertence-lhes a elas?
O aroma que vem da flor,
É seu? Dize, meu amor.
Problemas vastos, meu bem,
Cada cousa em si contém.
Pensando claro se vê
Que é pouco o que a mente lê
Em cada cousa da vida,
Pois que cada cousa, enfim,
É o ponto de partida
Da estrada que não tem fim.
Perante este sonho eterno
Falar em Deus, céu, inferno…
Ah! dá nojo ver o mundo
Pensar tão pouco profundo.
__Fernando Pessoa, (escrito em 15.11.1908), In Poesia 1902-1917, Assírio e Alvim, [ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine], 2005.