Dom Oscar Romero, antigo arcebispo de El Salvador, vai ser
beatificado no dia 23 de maio no seu país natal, onde foi morto a tiro em 1980,
às mãos da junta militar que dominava o país.
A luta do arcebispo
No último dia 24 de março, completaram-se 35 anos da morte
do eclesiástico. Nessa data, em 1980, que era um Domingo de Ramos, Dom Oscar Arnulfo
Romero foi atingido com um disparo no coração por um atirador do exército
salvadorenho, enquanto celebrava uma missa na capela do hospital da Divina
Providência, na Colônia Miramonte, em San Salvador, capital salvadorenha. Ele
foi perseguido durante a Guerra Civil do país, conflito armado que se estendeu
de 1980 a 1992 entre o governo de direita e a guerrilha de esquerda, deixando
75 mil mortos.
Para D. Oscar Romero, a morte não foi uma surpresa. Os que o
mataram fizeram questão de o «avisar». Ele confessou, duas semanas antes de ser
assassinado, estar a receber «inúmeras ameaças de morte». Como cristão, não
acreditava «na morte sem ressurreição. Se eles me matarem, voltarei à vida no
povo de El Salvador. Como pastor, devo dar a vida por aqueles a quem amo,
inclusive por aqueles que me vierem a matar». Nesse caso, esperava que o seu
sangue pudesse «ser uma semente de liberdade e um sinal de esperança». Pedia
que a sua morte pudesse «servir para a libertação do meu povo e como testemunho
de esperança daquilo que está para vir». Uma vida que se dá nunca deixa de
(re)nascer. Mesmo, quiçá sobretudo, quando está à beira de morrer!
A violência não vence o amor. Só com amor se vence a
violência. D. Óscar Romero não tinha dúvidas: «O amor deve vencer; é o único
capaz de vencer»!
D. Óscar Romero recusou todo o tipo de violência excepto
uma: a «violência do amor». Explicando: «Nós nunca pregamos a violência a não
ser a violência do amor que deixou Cristo pregado numa cruz. Nós nunca pregamos
a violência a não ser a violência que cada um de nós deve fazer a si mesmo para
ultrapassar o egoísmo. A violência que nós pregamos não é a violência da
espada, do ódio. É a violência do amor, da fraternidade, a violência que
escolhe transformar as armas em foices para o trabalho»!
Do apoio à causa dos pobres D. Óscar Romero exclui sempre
todo e qualquer ressentimento. Ele pedia aos poderosos que não o vissem como
inimigo. «Sou apenas o pastor, o irmão, o amigo do seu povo, aquele que conhece
o seu sofrimento, a sua fome e a sua aflição. Em nome das suas vozes, levanto a
minha para dizer: não façais ídolos das vossas riquezas; não as reserveis para
vós de uma forma que deixe os outros morrer de fome». Às vítimas da opressão
recomendava: «Sejamos firmes na defesa dos nossos direitos, mas façamo-lo com
amor no coração. O amor é a vingança dos cristãos»!
Grande mérito de figuras como D. Óscar Romero foi o de olhar
para os pobres não como indigentes, mas como cidadãos em plenitude. Eles têm
direito não somente a uma esmola, mas também a uma vida digna. «O mundo dos
pobres ensina-nos que a libertação só chegará quando os pobres não estiverem
apenas no terminal de recepção de esmolas, mas quando eles próprios forem
senhores e protagonistas da sua própria luta pela libertação». Uma luta que,
para o bispo-mártir, era obviamente pacífica. Como ele salvaguardava sempre, «o
amor é a vingança dos cristãos»!