Senhor,
a
velocidade com que vivemos
impede-nos
de viver.
Damos
por nós ofegantes, fazendo por fazer,
atropelados
por agendas e jornadas.
As
coisas acontecem depressa demais,
ninguém
parece ter certeza de nada,
nem
de si mesmo.
Passamos
pelas coisas sem as habitar,
falamos
com os outros sem os ouvir,
juntamos
informação
que
nunca chegamos a aprofundar.
Tudo
transita num galope ruidoso e efémero.
Ensina-nos
o contrário disto,
Senhor.
Ensina-nos,
Senhor,
o
aqui e o agora
da
escuta e da presença.
Faz-nos
reaprender o inteiro,
o
intacto, o verdadeiro,
o
afável, o fiel, o atento, o confiado.
Faz-nos
compreender que tal não só é possível
como
é o dom que nos está a ser
oferecido
nesta hora.
Que
ousemos assim transcender
o
nosso cálculo estreito;
escolher
mais vezes a vida silenciosa;
valorizar
encontros,
gestos
que sejam sementeiras,
afetos
onde se desenha
a
surpresa da misericórdia.
A
misericórdia é a arte de Deus e pode ser a nossa.( Texto: José Tolentino
Mendonça)