O verdadeiro propósito da filosofia - Epicteto
A verdadeira filosofia não envolve rituais exóticos, liturgias religiosas ou crenças originais. Também não se resume a teorias e análises abstratas. A verdadeira filosofia é, evidentemente, o amor à sabedoria. É a arte de viver bem a vida. Como tal, precisa ser resgatada dos gurus religiosos e filósofos profissionais para não se deixar explorar como um culto esotérico [reservado a poucos], ou um conjunto de técnicas intelectuais desconexas, ou um jogo de quebra-cabeça que sirva apenas para exibir sua inteligência. A filosofia é destinada a todos e só é praticada de modo autêntico por aqueles que a associam à ação no mundo, visando uma vida melhor para todos.O propósito da filosofia é iluminar os caminhos de nossa alma que foram contaminados por convicções infundadas, desejos descontrolados, preferências e opções de vida questionáveis que não são dignas de nós. O principal antídoto a tudo isso é um auto-exame minucioso aplicado com bondade. Além de erradicar as doenças da alma, a vida de sabedoria pretende despertar-nos de nossa apatia e introduzir-nos no caminho de uma vida ativa e alegre.A habilidade no uso da lógica e do debate e o desenvolvimento da capacidade de definir as coisas com seus nomes certos são alguns dos instrumentos que a filosofia nos oferece para alcançar a clareza de visão e a tranquilidade interior que constituem a felicidade verdadeira.
Essa felicidade que é a nossa meta deve ser corretamente entendida. A felicidade costuma ser confundida com prazer ou lazer experimentados passivamente. Este conceito de felicidade só é bom até certo ponto. O único e precioso objetivo de todos os nossos esforços é uma vida em expansão no caminho da plenitude.
A verdadeira felicidade é um verbo. É o desempenho contínuo, dinâmico e permanente de atos de valor. A vida em expansão, cuja base é a intenção de buscar a virtude, é algo que improvisamos continuamente, que construímos a cada momento. Ao fazê-lo, nossa alma amadurece. Nossa vida tem utilidade para nós mesmos e para as pessoas que tocamos.
Nós nos tornamos filósofos para distinguir o que é realmente verdadeiro do que é meramente o resultado acidental do raciocínio incorreto, das avaliações erradas adquiridas de modo imprudente, dos ensinamentos bem-intencionados mas equivocados de pais e professores e da aculturação que absorvemos sem refletir.
Para aliviar o sofrimento de nossa alma, precisamos nos entregar a uma introspecção disciplinada, na qual realizamos exercícios mentais para fortalecer nossa capacidade de descobrir quais são as convicções e os hábitos sadios e quais são os prejudiciais causados pela negligência.
Epicteto em A Arte de Viver