«Bem-aventurados
os pobres.
Bem-aventurados os que choram.»
Bem-aventurados os que choram.»
Tratado
sobre o Evangelho de S. Lucas
“Bem-aventurados
os pobres.” Os pobres não são todos bem-aventurados; porque a
pobreza é uma coisa neutra; pode haver pobres bons e pobres maus.
Bem-aventurado o pobre que clamou e que o Senhor ouviu (Sl 33, 7):
pobre de pecados, pobre de vícios, o pobre em quem o príncipe deste
mundo nada encontrou (Jo 14, 30), pobre à imitação daquele Pobre
que, sendo rico, Se fez pobre por nós (2Co 8, 9). É por isso que
Mateus dá a explicação completa: “Bem-aventurados os pobres de
espírito”, porque o pobre de espírito não incha de orgulho, não
se exalta em pensamentos exclusivamente humanos. Essa é, pois, a
primeira bem-aventurança.
[“Bem-aventurados
os mansos”, escreve Mateus em seguida.] Tendo abandonado por
completo o pecado, feliz com a minha simplicidade destituída de mal,
resta-me moderar o carácter. De que me serve faltarem-me os bens do
mundo, se não for manso e tranquilo? Porque seguir o caminho recto
é, evidentemente, seguir Aquele que diz: “Aprendei de Mim, que sou
manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).
Dito
isto, recorda-te de que és pecador; chora os teus pecados, chora as
tuas faltas. E é razoável que a terceira bem-aventurança seja para
aqueles que choram os seus pecados, porque é a Trindade que perdoa
os pecados. Purifica-te, pois, pelas tuas lágrimas e lava-te pelo
teu pranto. Se choras por ti mesmo, mais ninguém terá de chorar por
ti. Toda a gente tem mortos por quem chorar; estamos mortos quando
pecamos. Que aquele que é pecador chore, pois, por si mesmo e se
repreenda, a fim de se tornar justo, porque “o justo acusa-se a si
mesmo” (Pr 18, 17).