,Mais um ano ou menos um ano?!
(Marta Arrais)
(Marta Arrais)
Não sei se o que andamos a viver
justifica que pensemos que há mais um ano a caminho. Talvez a perspetiva seja
diferente do que a maioria anuncia. Sobra-nos, isso sim, menos um ano. Menos um
ano para perceber como podíamos ter feito os dias valer mais a pena. Mais a
asas. Um ano subtraído às bondades que não demos, às vontades que esquecemos e
aos sonhos que não alimentámos. Um ano a menos de uma aventura sem precedentes.
Que ainda protagonizamos como se não houvesse, nunca, um fim. Menos um ano de
oportunidades para tentarmos ser mais heróis do que vilões da nossa própria
história. Menos um ano para o que já foi adiado demasiadas vezes. Arriscadas
vezes. Um ano a menos para as alegrias que nos tínhamos prometido. Um ano a
menos para as viagens que eram para ter sido feitas dentro e fora de nós. Um
ano a menos para aumentar a soma de dias inesquecíveis e memoráveis. Na areia
que quase acaba de correr na ampulheta dos dias, esgueiram-se momentos que
passaram, que nos fizeram, que nos aumentaram, que nos estremeceram, que nos
apaziguaram, que nos levaram tudo, que nos secaram, que nos mataram a sede.
Momentos que…tudo. Um ano subtraído a tudo o que poderia ter sido feito, dito,
pensado, alcançado. Encerra-se um capítulo que não é nada mais do que um último
grão de areia nas nossas mãos. E agora?! Agora… tivesses vivido. Agora é aquela
altura em que as promessas se agarram outra vez aos copos em vez de se
construírem no coração. Agora é aquela altura em que os desejos brilham com uma
luz que não é nossa. Parece tudo possível e fácil, nesta altura. Viramos a
ampulheta e repetimos tudo. Brindes. Sorrisos. Gritos. Festa. Depois já não
será meia-noite e já não haverá a novidade de um calendário por estrear.
Ainda faltam uns dias para o virar de
página. Ainda vamos a tempo de transformar o ano que aí vem num ano a mais. Um
ano de aventuras a mais. De alegrias a mais. De bem a mais.Já
pensaste?! O ano que aí vem será (mais) um ano a menos ou um ano a mais.