Não há como aproximar-se de Jesus sem sentir-se atraído e fascinado por sua pessoa, pelo carinho, delicadeza e ternura com que trata os outros, independente de seu gênero, etnia ou religião
Para o teólogo mineiro Faustino
Teixeira, o livro Jesus. Aproximação histórica (Petrópolis: Vozes, 2010), de
José Antonio Pagola tem uma tripla
destinação: é dirigido “aos cristãos e cristãs que perderam o contato com a
mensagem viva de Jesus, aos que muito ignoram a seu respeito e aos que se
decepcionaram com o cristianismo real e buscam outros caminhos de afirmação de
sentido”. Parte da entrevista que segue, concedida à IHU On-Line por e-mail
IHU On-Line - Jesus aparece na
obra de Pagola como o “poeta da compaixão”, o “curador da vida” e o “defensor
dos últimos”. É possível verificar aí o segredo de seu fascínio?
Faustino Teixeira - Não há dúvida
alguma sobre isso. O autor consegue apresentar com imensa felicidade essa
faceta extraordinária de Jesus como um buscador singular de Deus, mas de um
Deus que tem entranhas de compaixão e misericórdia. Isso me faz lembrar uma
reflexão de Roger Haight, em seu livro Jesus símbolo de Deus (1999). Dizia ali
que Jesus era teocêntrico, mas que ironicamente o que ele apresentava ao mundo
era um Deus antropocêntrico, ou seja, um Deus “intrinsecamente interessado e
preocupado com o bem-estar de suas criaturas”. Pagola sublinha em seu livro que
a melhor metáfora para expressar a ideia de Deus é a do “Deus compassivo”. A
profunda paixão de Jesus pelo reino de Deus, que é o centro referencial de sua
vida, faz com que ele traduza na história, em gestos efetivos, a Boa Notícia
que ele recebeu de seu Pai. Animado pela experiência do Deus da vida, Jesus
anuncia a todos uma notícia que traduz mudança de perspectiva: a de que “Deus
já está aqui buscando uma vida mais ditosa para todos”. Tudo isso foi motivo de
impacto e sedução em seu tempo. A maneira peculiar com que falava aos outros
sobre Deus e seu projeto de vida provocava entusiasmo e paixão nos setores mais
simples da Galileia. Era mesmo o que precisavam ouvir: a notícia de que “Deus se
preocupa com eles”. Jesus não era somente o “ptoeta da compaixão”, mas também
“curador da vida”. Trata-se de um curador singular, pois despertava nos outros
a vontade de viver com dignidade e sinalizava uma relação distinta com o
mistério do Deus que abre novos caminhos. Na verdade, como bem expressa Pagola,
Jesus contagia saúde, vida e alegria: “Seu amor apaixonado à vida, sua acolhida
afetuosa a cada enfermo ou enferma, sua força para regenerar a pessoa a partir
de suas raízes, sua capacidade de transmitir sua fé na bondade de Deus. Seu
poder de despertar energias desconhecidas no ser humano criava as condições que
tornavam possível a recuperação da saúde”. Outro importante traço de Jesus é a
sua acolhida aos pobres. Identifica-se como “defensor dos últimos”. Na
perspectiva de sua peculiar atuação, sinaliza que o caminho que leva a Deus
“não passa necessariamente pela religião, pelo culto ou pela confissão de fé,
mas pela compaixão para com os ‘irmãos pequenos’”. Trata-se da “grande
revolução religiosa” provocada por Jesus, que abre uma via nova de acesso a
Deus, que passa pela acolhida e compromisso com o outro necessitado, sobretudo
o mais pobre. E levar a cabo o seguimento de Jesus, como lembra Pagola, é
também “pôr no centro de nosso olhar e de nosso coração os pobres. Situar-nos
na perspectiva dos que sofrem. Fazer nossos seus sofrimentos e aspirações.
Assumir sua defesa”.