Da mansuetude
"Mansos, no verdadeiro sentido evangélico, não nascemos;
tornamo-nos por dom da graça. Somente quando alguém é sinceramente desejoso de
receber tal dom é que demonstra de haver as disposições necessárias para
tornar-se monge, para entrar na escola do serviço divino.
«Escuta…». Esse verbo tipicamente bíblico que se encontra
justamente no início do Prólogo da Regra, é como uma grande porta que se
escancara diante de nós para introduzir-nos na escola da mansidão.
Jesus Cristo é o modelo supremo. Ele era manso porque tinha
em si a força do Espírito de modo tão pleno a ponto de não deixar nenhum espaço
para o artifício do maligno.
[...]
«Escuta…»: um convite persuasivo que ressoa há séculos e
milênios no coração do homem que – depois de ter dado as costas ao seu criador
e Pai – caminha pelas estradas da terra sem direção. E esse convite se fez
ainda mais iminente com a presença d’Aquele que, para atrair a si a criatura na
qual imprimiu a sua imagem, se fez ele mesmo filho, irmão, servo do homem. Para
acalmar os rebeldes, fez-se manso. Jesus Cristo, a divina mansidão encarnada, é
o livro de texto, jamais superado pelo progresso da ciência humana, do qual nós
devemos aprender a ciência da vida.
Ele mesmo nos declara: «Vinde a mim, vós todos que estais
cansados e oprimidos, e eu vos restaurarei. Tomai o meu jugo sobre vós e
aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso
para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve» (Mt 11,
28-30).
Estamos cansados por causa de uma caminho extenuante, sob o
peso de nós mesmo, mas nos é oferecida a possibilidade de beber de uma fonte
fresca e de retomar o caminho com as energias restauradas, somos reconduzidos
ao nosso «princípio» e colocados diante do claro horizonte do nosso «fim»."