Pular para o conteúdo principal

Beber da própria sede

O que mais se opõe à vida de Deus dentro de nós não é a fragilidade, mas o orgulho.
  Associar a sede à Paixão de Jesus e  a pobreza de cada ser humano é o lugar onde Jesus intervém e que o maior obstáculo à vida de Deus é a inflexibilidade e a presunção. Por isso é preciso aprender a beber da própria sede.

A Igreja não pode isolar-se numa torre de marfim e deve ser discípula, abraçando uma experiência de nomadismo. Há o risco de impor a outros caminhos exigentes, enquanto que fiéis permanecem sentados. É preciso que as comunidades cristãs estejam atentas para que o sedentarismo não se torne também espiritual, como uma atrofia interior.
  O poço de onde se bebe a água que sacia a sede é a vida espiritual concreta, mesmo que ferida de contingências e limitações.

«A humanidade que temos dificuldade em abraçar, a nossa própria e a dos outros, é a humanidade que Jesus abraça verdadeiramente, dado que Ele se inclina com amor sobre a nossa realidade, e não sobre a idealização de nós mesmos que construímos. O mistério da encarnação do Filho de Deus, em suma, comporta para nós uma visão não ideológica da vida».


A sede, em certo sentido, humaniza o ser humano e constitui uma via de «amadurecimento espiritual». É preciso muito tempo para perder a mania das coisas perfeitas, para vencer o vício de sobrepor as falsas imagens à realidade. Como escreve Thomas Merton, Cristo quis identificar-se com o que não gostamos de nós próprios, dado que tomou sobre si a nossa miséria e o nosso sofrimento. S. Paulo testemunha a fé com uma hipótese paradoxal: «Quando sou fraco é então que sou forte».

«O grande obstáculo à vida de Deus dentro de nós não é a fragilidade ou a fraqueza, mas a dureza e a rigidez. Não é a vulnerabilidade e a humilhação, mas o seu contrário: o orgulho, a auto-suficiência, a autojustificação, o isolamento, a violência, o delírio do poder. A força de que temos verdadeira necessidade, a graça que precisamos, não é nossa, mas de Cristo», frisou.

«Se nos dispusermos à escuta, a sede pode ser um mestre precioso da vida interior», assinalou o P. Tolentino Mendonça, que seguidamente se centrou nas três tentações de Jesus no deserto, antes do início da vida pública, narrativa proclamada no Evangelho das missas celebradas no passado domingo, o primeiro da Quaresma.

Sobre a tentação do pão, o biblista assinalou que Jesus conhece as necessidades materiais humanas, mas recorda que não só de pão vive o homem; a sua resposta não é para nos fazer evadir desta realidade, para a fazer considerar como um lugar que deve ser marcado pelo Espírito.

Acerca da segunda tentação, o sacerdote evocou a passagem do povo de Israel no deserto, a caminho da Terra Prometida, quando exigiu a Moisés que lhe desse de beber; para acreditar, queremos ver a nossa sede satisfeita, mas Jesus «ensina-nos a entregar o silêncio, o abandono e a sede como oração».

Na última tentação, em que Jesus responde a Satanás «o Senhor teu Deus adorarás; só a Ele prestarás culto», o P. Tolentino recordou que a Cristo ressuscitado foi dado todo o poder no Céu e na Terra.

O diabo quer ser adorado, mas o seu poder é aparência, enquanto que o do Ressuscitado faz parte do mistério da cruz, da oferta extrema de si. É um risco enorme quando a tentação do poder, em escala mais ou menos maior, nos afasta do mistério da cruz, quando nos afasta do serviço aos irmãos.

Jesus, ao contrário, ensina a não nos deixarmos escravizar por ninguém e a não fazer de ninguém escravo, mas a prestar culto só a Deus e a servir: «Nós não somos proprietários, somos pastores».

Postagens mais visitadas deste blog

ORAÇÃO PARA SER REZADA TODOS OS DIAS

 Ave Maria  de  Alta Graça         Ave Maria de Alta Graça, Luz Divina que o sol embaça, Ave Maria Paz e Minha Guia, me acompanhe neste dia Deus e a Virgem Maria, o mar se abrande, cessem os perigos, retrocedei todos os viventes que estiverem neste dia contra mim; Se tiverem pés não me alcancem, braços não me toquem, olhos não me enxerguem e língua não me falem; Faltem as forças a todos aqueles que me quiserem fazer o mal. Eu com o Manto de Nosso Senhor Jesus Cristo serei coberto, com seu sangue, serei baforado, não serei preso e nem amarrado; Viverei em paz e harmonia assim como viveu Nosso Senhor Jesus Cristo no ventre puríssimo de Sua Mãe Maria Santíssima.

A Cruz permanece firme, enquanto o mundo gira.

  "STAT CRUX DUM VOLVITUR ORBIS" A Cruz permanece firme, enquanto o mundo gira .  A Cruz permanece intacta enquanto o Mundo percorre a sua órbita. A cruz que está firme no mundo simboliza a firmeza na contínua agitação dos homens, das ideias, das coisas. A cruz erguida acima do redemoinho de coisas humanas que passam, dos prazeres humanos que são efêmeros, das vaidades humanas que perecem, a cruz erguida, alta, imóvel é carregada, apoiada, levantada não pelo mundo instável, mas por almas estáveis ​​em seus propósitos, consagradas à oração, devotadas ao sacrifício, chamadas a exaltá-la acima do mundo Abandonar as realidades fugazes e procurar capturar o eterno. O mundo gira, evolui e transforma-se, mas a cruz permanece sempre com o mesmo significado espiritual, o mesmo valor redentor e o mesmo poder de atracção. (…)” Cristo é imutável: Christus heri et hodie, Principium et Finis, Alpha et Omega, ipsius sunt tempora et saecula (Cristo ontem e hoje, princípio e fim,
  Cidade do Vaticano, 21 dez 2023 (Ecclesia) – O Papa destacou hoje a sobriedade e a alegria do presépio, a partir da iniciativa de São Francisco de Assis, alertando para que o risco de perder-se o que é importante na vida “e paradoxalmente aumenta perto do Natal”. “O presépio foi criado para nos trazer de volta ao que importa: a Deus que vem morar entre nós, mas também às outras relações essenciais, como a família, presente em Jesus, José e Maria, e os entes queridos, representados pelos pastores”, disse Francisco, na audiência pública semana, no Vaticano. “As pessoas antes das coisas, as pessoas assim como são”, acrescentou o Papa, indicando que as personagens do presépio “são simples, pobres, e estão em harmonia com a criação”, a paisagem ocupa o maior espaço e o boi e o burro nunca faltam”. “É bom ficar em frente do presépio para reorganizar a vida voltando ao essencial. É como entrar num oásis para escapar da agitação diária, para encontrar a paz na oração e no silêncio, numa tern