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PRECISAMOS DE CORAÇÕES PUROS, NÃO DE CORAÇÕES DUROS

A. Será que só o mal é ilimitado?
1.Haverá limites para o bem? Infelizmente, estamos num mundo e vivemos num tempo em que só o mal parece ilimitado. A todas as horas, lidamos com ele. Em toda a parte, sofremos por causa dele. E o que é pior é que, à força de tanto hábito, chegamos ao ponto de colorir o mal com tintas de bem. A maldade parece ter-se apoderado das pessoas aprisionando os seus sentimentos e as suas atitudes.
Jesus confronta os fariseus acerca desta questão: haverá limites para o bem? Haverá dias em que não se possa fazer o bem? Afinal, será mal fazer o bem?

2.«Será permitido ao Sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?» (Mc 3, 4). Aparentemente ninguém tem dúvidas na resposta, mas, na prática, notam-se muitos bloqueios na vida. O bem, tão exaltado, permanece bloqueado por vulcões de maldade que não cessam. Jesus «estava indignado com a dureza daqueles corações» (Mc 3, 5). Esta é a raiz de toda a maldade: a dureza dos corações. Precisamos de corações puros, não de corações duros. Precisamos de corações que se saibam compadecer e não de corações que façam sofrer.

Nesta vida, há quem estenda a passadeira ao mal e coloque todo o tipo de entraves ao bem. E, quando falham os argumentos, opta-se pela afronta. Os contemporâneos de Jesus ficaram calados (cf. Mc 3, 4). Como não sabiam o que dizer, resolveram fazê-Lo desaparecer (cf. Mc 3, 6). Hoje, infelizmente, continua a ser assim. Há quem ao mal nunca ponha fim.

B. Não há limites para a prática do bem


3.É sabido que o Sábado era uma instituição central para o antigo Povo de Deus. Foi nesse dia que, segundo o Génesis, Deus concluiu a obra da criação (cf. Gén 2, 2). E concluiu-a criando o descanso. Não é que Deus estivesse cansado. Mas o descanso do sétimo dia é uma oportunidade para Deus contemplar a criação e para a criação contemplar o seu Deus. Por isso — acrescenta o Génesis — Deus abençoou e santificou esse dia (cf. Gén 2, 3).

Não espanta — tanto mais que o homem é imagem de Deus (cf. Gén 1, 26) — que um dos mandamentos divinos preceitue precisamente a santificação do Sábado: «Lembra-te do dia de Sábado para o santificar» (Êx 20, 8; Deut 5, 12). Em que consiste essa santificação? Fazendo o que Deus fez, ou seja, suspendendo a actividade dos outros dias. «Durante seis dias — diz Deus — hás-de trabalhar e farás tudo o que tiveres a fazer. Mas o sétimo dia é dia de descanso, que pertence ao Senhor, teu Deus. Não farás qualquer trabalho» (Deut 5, 13-14).

4.O principal está na afirmação de que o Sábado pertence a Deus. Como, aliás, todo o tempo pertence a Deus. O Sábado tem uma função iluminadora — e inspiradora — para cada dia e para todo o tempo. O Sábado é o dia da Criação. É para o Sábado que toda a criação se encaminha. É para a celebração da criação que se orienta o trabalho da criação. A suspensão do trabalho não significa uma opção pela ociosidade. A suspensão do trabalho serve para entregar todo o trabalho nas mãos de Deus. É «o fruto da terra e do trabalho do homem» que Lhe confiamos.

Acontece que, como Jesus tem o cuidado de ressalvar, o Sábado foi feito por Deus para o homem (cf. Mc 2, 27). Isto é, foi feito para que o homem possa celebrar o encontro com Deus. Por aqui se vê como Jesus não interpreta restritivamente o mandamento do Sábado. Deus suspende a actividade habitual, mas sem impor a inactividade. O Sábado não é inactivo; é activo de uma maneira diferente. E, quando se trata de fazer o necessário (como comer) ou de praticar o bem (como curar alguém doente), não há restrições. Como percebeu belamente Santo Ireneu, «a glória de Deus é o homem vivo», isto é, o homem com saúde, com alimento, com habitação, com educação.
C. O Domingo é o novo Sábado
5. Ao contrário do que insinua a nossa terminologia, para Deus não há «dias inúteis» em contraposição aos «dias úteis». Todos os dias são úteis. O Domingo também é um «dia útil». Todos os dias — incluindo o Domingo — devem ser utilizados na prática do bem. E que melhor culto se pode prestar a Deus do que contribuir para melhorar a vida dos filhos de Deus?
Por conseguinte, fazer o bem, sempre! E não é sequer a prática do bem que impede que celebremos o culto a Deus. Como diz o Livro de Coelet, «tudo tem seu tempo e sua hora» (Ecl 3, 1). Havendo vontade, conseguimos tempo para tudo. Falhando a vontade, nunca arranjaremos tempo para nada.

6.Como é sabido, Cristo não anulou o Sábado. Nós, cristãos, também não eliminamos o Sábado. O Domingo é o novo Sábado, é a plenitude do Sábado. No Sábado, Jesus Cristo esteve nas profundezas da Criação. No Domingo, ressurgiu para inaugurar a nova Criação. É por isso que Jesus é apresentado como o novo Adão (cf. 1Cor 15, 20-21; Rom 5, 17-19), isto é, como o primeiro Homem da nova humanidade. Jesus inaugura a nova humanidade com a entrega da Sua vida, com a oferta do Seu sangue.

Foi por isso que os cristãos, não deixando de celebrar o Sábado, depressa se habituaram a celebrar o Domingo, como novo Sábado, como o dia da nova — e definitiva — criação.
D. Não é a Eucaristia que nos impede de fazer o bem

7.A celebração do Domingo consistiu sempre na celebração da Eucaristia, na dupla mesa da Palavra e do Pão. Mártires muito antigos morreram a proclamar que «não podemos viver sem o Domingo». O que, fundamentalmente, quer dizer que não podemos viver sem a Eucaristia.

Não esqueçamos, por isso, o terceiro Mandamento da Lei de Deus nem o primeiro Mandamento da Santa Igreja. O terceiro Mandamento da Lei de Deus lembra-nos a obrigação de santificar o Domingo (que é o novo Sábado) e Festas de Guarda. Por sua vez, o primeiro Mandamento da Santa Igreja concretiza em que consiste essa santificação: participar na Missa inteira no Domingo e Festas de Guarda.

8.Não é a Eucaristia que nos impede de fazer o bem. Pelo contrário, a Eucaristia é o mais poderoso estímulo para a prática do bem. Quem celebra o bem que Deus faz pela humanidade não pode deixar de se comprometer na promoção do bem pela humanidade.

Nunca esqueçamos que a Missa não tem fim. O «ide em paz» não é uma despedida, mas um envio. Terminada a celebração sacramental, tem de começar a celebração existencial. E a celebração existencial da Eucaristia consiste na prática do bem, na vivência do amor fraterno.
E. Afinal, somos todos insuficientes

9.Tenhamos presente o que disse Jesus a este homem: «Estende a mão» (Mc 3, 5). Eis o que falta, eis o que urge. É preciso estender a mão. Como aconteceu a este homem, só ficamos curados quando estendemos as mãos. Precisamos de estender mais as mãos. As nossas mãos ainda estão muito contraídas porque o nosso coração ainda se mantém muito fechado.

Habituemo-nos, então, a estender as mãos: em atitude de súplica, em atitude de louvor, em atitude de solidariedade, em atitude de comunhão. Todos os dias são bons para estender as mãos. Quem estende as mãos para Deus acabará por estender as mãos para os irmãos.

10.Este gesto de estender as mãos permite-nos perceber que, sozinhos, não somos nada. As mãos estendidas mostram como estão entrelaçadas as nossas vidas.

Não nos sintamos diminuídos com a interdependência. Os outros fazem parte de nós e nós fazemos parte dos outros. Todos pertencemos a todos e, antes de mais, a Deus. Não nos vangloriemos de uma auto-suficiência que não temos. Tomar consciência da nossa radical insuficiência até pode ser um acto de inteligência. É que quando nos abrimos aos outros e a Deus somos mais, somos melhores, somos diferentes. Assim sendo, nunca faltemos à Eucaristia. E a todos estendamos as mãos, em cada dia!

Pe. João Antonio Pinheiro Teixeira

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