Corrente neopentecostal evangélica, a “teologia da prosperidade” difundiu-se nos EUA onde nasceu, mas também nos outros continentes, e funda suas raízes na convicção de que “Deus quer que seus fiéis tenham uma vida próspera, isto é, que sejam ricos do ponto de vista econômico, sadios do ponto de vista físico e individualmente felizes”.
Os jesuítas Antonio Spadaro e Marcelo Figueroa ilustram o fenômeno – sobre o qual o Papa Francisco se pronunciou reiteradas vezes indicando seus perigos – na prestigiosa revista da Companhia de Jesus “La Civiltà Cattolica”, em sua edição do próximo sábado, 21 de julho.
“Esse tipo de cristianismo coloca o bem-estar do crente no centro da oração, e faz de seu Criador aquele que realiza os pensamentos e desejos do fiel”, observam os religiosos jesuítas.
Perigo de transformar Deus num poder a nosso serviço
Trata-se de um “antropocentrismo religioso” que corre o risco de “transformar Deus num poder a nosso serviço” e faz referência “ao chamado American dream” (sonho americano), identificando-se com uma sua interpretação redutiva. Neste quadro não há lugar para a solidariedade: a pobreza é sinal de falta de fé e, em todo caso, “culpa” do fiel.
Visão de fé várias vezes advertida pelo Papa Francisco
Além disso, a visão da fé proposta pela “teologia da prosperidade” coloca-se “em clara contradição com a concepção de uma humanidade marcada pelo pecado e com a expectativa de uma salvação escatológica, ligada a Jesus Cristo” encarnando “uma forma peculiar de pelagianismo várias vezes advertida pelo Papa Francisco” e expressa “também a outra heresia do nosso tempo, ou seja, o gnosticismo”.
Desde o início de seu Pontificado, escrevem os dois jesuítas, Francisco esteve atento a esse “Evangelho diferente” e “criticando-o, aplicou a clássica doutrina social da Igreja. Reiteradas vezes o evocou para evidenciar seus perigos”.
Advertência do Papa em discurso aos bispos do Celam
A primeira vez deu-se no Brasil, em 28 de julho de 2013, dirigindo-se aos bispos do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), posteriormente, falando aos bispos da Coreia, nas homilias na Casa Santa Marta, no Vaticano, até as advertências sobre o pelagianismo e gnosticismo contidas na Exortação apostólica “Gaudete et exsultate” (Alegrai-vos e exultai) sobre o chamado à santidade no mundo contemporâneo.