"Que hei de fazer? Onde encontrarei que comer? Que vestir?" Eis o que diz este rico. O seu coração sofre, a inquietação devora-o, porque aquilo que regozija os outros acabrunha o avarento. O fato de ter os celeiros cheios não é para ele motivo de felicidade. O que atormenta dolorosamente a sua alma é esse excesso de riquezas, transbordando dos seus celeiros. […]
Considera, homem, quem te cumulou com a sua generosidade. Reflete um pouco sobre ti mesmo: quem és tu? O que te foi confiado? De quem recebeste esse cargo? Porque foste tu escolhido, em detrimento de muitos outros? O Deus de bondade fez de ti seu administrador; és responsável pelos teus companheiros de trabalho: não penses que tudo foi preparado apenas para ti! Dispõe dos bens que possuis como se eles pertencessem aos outros. O prazer que eles te proporcionam dura pouco, em breve te escaparão e desaparecerão, mas ser-te-ão pedidas contas rigorosas. Ora, tu guardas tudo, tens portas e fechaduras bem cerradas; e embora tenhas tudo muito bem fechado, a ansiedade impede-te de dormir. […]
"Que hei de fazer?" Havia uma resposta pronta: "Encherei as almas dos famintos; abrirei os meus celeiros e convidarei todos os que têm necessidade. […] Farei ouvir uma palavra generosa: vós todos que tendes fome, vinde a mim, tomai a vossa parte dos dons concedidos por Deus, cada qual segundo as suas necessidades."
São Basílio, o Grande (c. 330-379)
Homilia 6, sobre as riquezas; PG 31, 261ss.
Homilia 6, sobre as riquezas; PG 31, 261ss.