Santo Agostinho (354-430)
bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja Sermão 115, 1; PL 38, 655 (a partir da trad. de Delhougne, Les Pères commentent, p. 447) |
«Quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a Terra?»
Haverá método mais eficaz para nos encorajar à oração do que a parábola do juiz iníquo que o Senhor nos contou? Evidentemente, o juiz iníquo nem temia a Deus nem respeitava os homens. Não experimentava qualquer benevolência pela viúva que a ele recorrera e, no entanto, vencido pelo aborrecimento, acabou por ouvi-la. Se, pois, ele atendeu esta mulher que o importunava com as suas súplicas, como não seremos nós atendidos por Aquele que nos encoraja a apresentar-Lhe as nossas? Foi por isso que o Senhor nos propôs esta comparação, conseguida por contraste, para nos dar a perceber que é preciso «orar sempre sem desanimar». E depois acrescentou: «Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a Terra?» |
Se a fé desaparecer, a oração extingue-se. Com efeito, ninguém se lembraria de rezar para pedir aquilo em que não crê. Diz o apóstolo Paulo, exortando-nos à oração: «Todo o que invocar o nome do Senhor será salvo»; e depois, para mostrar que a fé é a fonte da oração e que o ribeiro não pode correr se a fonte estiver seca, acrescenta : «Ora, como hão de invocar Aquele em quem não acreditaram?» (Rom 10,13-14) Acreditemos, pois, para podermos orar e oremos para que a fé, que é o princípio da nossa oração, nunca nos venha a faltar. A fé expande a oração e a oração, ao expandir-se, obtém por seu turno o fortalecimento da fé. |