Nós nos aproximamos mais da linguagem quando pensamos no diálogo. Para que um diálogo aconteça, tudo precisa de afinar. Quando o companheiro de diálogo não nos acompanha e não vai além de sua resposta, mas só tem em vista, por exemplo, com que meios de contra-argumentação ele pode limitar o que foi dito ou mesmo com que argumentações lógicas ele pode estabelecer uma refutação, não há diálogo algum — um diálogo frutífero é um diálogo no qual oferecer e escolher, acolher e oferecer conduzem, por fim, a algo que se mostra como um sítio comum com o qual estamos familiarizados e no qual podemos nos movimentar uns com os outros. Também dizemos em alemão: "Mit dem habe ich mich gut verstanden" (Entendi-me bem com ele). No que nos entendemos, afinal, propriamente aí? Resposta: em tudo. Assim se mostra nesse modo de falar que expressa uma experiência o fato de um autêntico universo se descortinar no diálogo.
— GADAMER, Hans-Georg. “Hermenêutica em Retrospectiva: Heidegger em Retrospectiva”, Vol. I. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2007, p. 46. Tradução de Marco Antônio Casanova.
Obra de arte por Emile Friant.
Obra de arte por Emile Friant.