Se temos medo de ficar sozinhos, medo do silêncio, talvez seja em
virtude de nossa secreta desesperança de reconciliação íntima. Se não
temos a esperança de ficar em paz conosco em nossa própria solidão e em
nosso silêncio pessoal, jamais seremos capazes de nos encarar:
continuaremos correndo sem parar. E essa fuga do eu é, como indicou o
filósofo suíço Max Picard, uma "fuga de Deus". Afinal de contas, é nas
profundezas da consciência que Deus fala, e, se recusamos
a nos abrir por dentro e a olhar essas profundezas, também recusamos
nos confrontar com o Deus invisível presente dentro de nós. Essa recusa é
uma admissão parcial de que não queremos que Deus seja Deus, assim como
não queremos que nós mesmos sejamos nossos eus verdadeiros.
MERTON, T. Amor e vida.
São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 44.
São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 44.