“Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem cristão, são estas: Ele vive e quer-te vivo!” Assim começa a recente Exortação Apostólica que o Papa Francisco dirigiu de um modo muito particular aos jovens de todo o mundo, na sequência do Sínodo do final de 2018. Um documento que lança inúmeros desafios e nos convida a abraçar a novidade constante do Evangelho.
Queremos aqui destacar o penúltimo capítulo deste documento onde o Papa Francisco nos fala sobre a vocação.
“O ponto fundamental é discernir e descobrir que aquilo que Jesus quer de cada jovem é, antes de tudo, a sua amizade. Este é o discernimento fundamental.” (Christus vivit, 250). O Papa Francisco exorta-nos continuamente a vivermos uma história de amor com Jesus, a caminhar lado a lado com Ele, a segui-l’O e escutá-l’O, pois só assim saberemos que projeto é que Ele tem para nós. E é um projeto muito real, muito concreto, que envolve todo o nosso ser, a nossa realização mais profunda e duradoura: “a vida que Jesus nos dá é uma história de amor, uma história de vida que quer misturar-se com a nossa e criar raízes na terra de cada um. Essa vida não é uma salvação suspensa ‘na nuvem’ – no disco virtual – à espera de ser descarregada, nem uma nova ‘aplicação’ para descobrir ou um exercício mental fruto de técnicas de crescimento pessoal. Nem a vida que Deus nos oferece é um ‘tutorial’ com o qual apreender as últimas novidades. A salvação, que Deus nos dá, é um convite para fazer parte duma história de amor, que está entrelaçada com as nossas histórias; que vive e quer nascer entre nós, para podermos dar fruto onde, como e com quem estivermos. Precisamente aí vem o Senhor plantar e plantar-Se a Si mesmo”. (Francisco, Discurso na Vigília da XXXIV Jornada Mundial da Juventude – Panamá, 26 de janeiro de 2019)
Neste caminho de discernimento que todos somos chamados a percorrer há um fator determinante: conhecer o rumo, o sentido. E neste ponto, o Papa Francisco diz-nos que “a nossa vida na terra atinge a sua plenitude, quando se transforma em oferta. Lembro que ‘a missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir. Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo”. (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 273) Por conseguinte, devemos pensar que toda a pastoral é vocacional, toda a formação é vocacional e toda a espiritualidade é vocacional. A tua vocação não consiste apenas nas atividades que tenhas de fazer, embora se manifeste nelas. É algo mais! É um percurso que levará muitos esforços e muitas ações a orientar-se numa direção de serviço.” (Christus vivit, 254-255)
A descoberta do que cada um é, daquilo que nos anima no mais profundo do nosso ser é determinante para a realização pessoal, para uma vida verdadeiramente feliz: “Para realizar a própria vocação, é necessário desenvolver-se, fazer germinar e crescer tudo aquilo que uma pessoa é. Não se trata de inventar-se, criar-se a si mesmo do nada, mas descobrir-se a si mesmo à luz de Deus e fazer florescer o próprio ser: ‘Nos desígnios de Deus, cada homem é chamado a desenvolver-se, porque toda a vida é vocação’. (São Paulo VI, Carta enc. Populorum progressio, 15). A tua vocação orienta-te para tirares fora o melhor de ti mesmo para a glória de Deus e para o bem dos outros. Não se trata apenas de fazer coisas, mas fazê-las com um significado, uma orientação.” (Christus vivit, 257)
Nos dias de hoje, nem sempre é fácil parar e discernir o sentido da nossa vida. Mas esta paragem torna-se essencial para que caiamos numa monotonia dos dias que se sucedem sem alegria ou entusiasmo. Neste sentido, o Papa Francisco exorta os jovens a procurarem estes momentos fortes de encontro com o Senhor, com este Amigo Jesus que os conhece no mais íntimo de si mesmos e que os desafia para o um projeto de Amor: “Jesus caminha no meio de nós, como fazia na Galileia. Passa pelas nossas estradas, detém-Se e fixa-nos nos olhos, sem pressa. A sua chamada é atraente, fascinante. Mas, hoje, a ansiedade e a velocidade de tantos estímulos que nos bombardeiam fazem com que não haja lugar para aquele silêncio interior onde se percebe o olhar de Jesus e se ouve a sua chamada. Entretanto receberás muitas propostas bem confecionadas, que parecem belas e intensas, mas com o passar do tempo, deixar-te-ão simplesmente vazio, cansado e sozinho. Não deixes que isto te aconteça, porque o turbilhão deste mundo arrasta-te numa corrida sem sentido, sem orientação, nem objetivos claros, e deste modo se malograrão muitos dos teus esforços. Procura, antes, aqueles espaços de calma e silêncio que te permitam refletir, rezar, ver melhor o mundo ao teu redor e então sim, juntamente com Jesus, poderás reconhecer qual é a tua vocação nesta terra.” (Christus vivit, 277)