Pular para o conteúdo principal

Tocar as coisas de Deus no templo, e não tocar as criaturas de Deus na estrada

A extraordinária inteligência comunicativa de Jesus: desvela o coração profundo, inventando uma história simples, que todos podem compreender, os professores como as crianças!
As parábolas são narrativas que provêm da voz viva de Jesus, é como escutar o murmúrio da fonte, o momento inicial, fresco, espontâneo do Evangelho. Representam o cume mais alto e genial, o mais acabado da sua linguagem, não a exceção. Para Ele, falar em parábolas era a norma. Ensinava não por conceitos, mas por imagens e histórias, que libertam e não constrangem.
Um homem descia de Jerusalém para Jericó (cf. Lucas 10, 25-37). Uma das histórias mais belas do mundo. Um homem descia, e nem um adjetivo: judeu ou samaritano, justo ou injusto, rico ou pobre, pode ser até um desonesto, um bandido: é o homem, cada homem!
Não sabemos o seu nome, mas sabemos da sua dor: ferido, golpeado, terror e sangue, rosto por terra, não se consegue recuperar por si só. É o homem, é um oceano de homens, de pobres derrubados, humilhados, bombardeados, naufragados, bolsas de humanidade ensanguentada em cada continente. O mundo inteiro desce de Jerusalém para Jericó, sempre.
O sacerdote e o levita, os primeiros que passam, têm diante de si um dilema: transgredir a lei do amor ao próximo, ou a aquela do ficarem puros, evitando o contacto com o sangue. Escolhem a coisa mais cómoda e mais fácil: não tocar, não intervir, passar em volta do homem, e… permanecer puros. Pelo menos exteriormente. Enquanto que por dentro, o coração adoece.
Tocam as coisas de Deus no templo, e não tocam as criaturas de Deus na estrada. A sua religião é meramente de fachada, e não fé que acende a vida e as mãos. A mensagem é forte: gestos e objetos religiosos, ritos e regras “sagradas” podem obscurecer a lei de Deus, fingir a fé que não há, e usá-la a bel-prazer. Pode acontecer também a mim, se troco a alma do Evangelho, o seu fogo, por pequenas normas e gestos astutos.
Quem faz emergir a alma profunda é um herege, um estrangeiro, um samaritano em viagem: vê-o, tem compaixão dele, faz-se próximo. São termos de uma carga infinita, belíssima, transbordam humanidade. A compaixão vale mais do que regras cultuais ou litúrgicas (do sacerdote e do levita); mais do que regras doutrinais (o samaritano é um herege); supera as leis étnicas (é um estrangeiro); ignora as distinções moralistas: socorro aquele que o merece, os outros não.
A divina compaixão é assim: incondicional, assimétrica, unilateral. No centro do Evangelho, uma parábola, um homem. E o sonho de um mundo novo, que estende as suas asas aos primeiros três gestos do bom samaritano: viu, teve compaixão, fez-se próximo.


Ermes Ronchi 
In Avvenire 
Trad.: Rui Jorge Martins 
Imagem: "Parábola do bom samaritano" | Balthasar van Cortbemde | 1647 
Publicado em 11.07.2019

Postagens mais visitadas deste blog

ORAÇÃO PARA SER REZADA TODOS OS DIAS

 Ave Maria  de  Alta Graça         Ave Maria de Alta Graça, Luz Divina que o sol embaça, Ave Maria Paz e Minha Guia, me acompanhe neste dia Deus e a Virgem Maria, o mar se abrande, cessem os perigos, retrocedei todos os viventes que estiverem neste dia contra mim; Se tiverem pés não me alcancem, braços não me toquem, olhos não me enxerguem e língua não me falem; Faltem as forças a todos aqueles que me quiserem fazer o mal. Eu com o Manto de Nosso Senhor Jesus Cristo serei coberto, com seu sangue, serei baforado, não serei preso e nem amarrado; Viverei em paz e harmonia assim como viveu Nosso Senhor Jesus Cristo no ventre puríssimo de Sua Mãe Maria Santíssima.

A Cruz permanece firme, enquanto o mundo gira.

  "STAT CRUX DUM VOLVITUR ORBIS" A Cruz permanece firme, enquanto o mundo gira .  A Cruz permanece intacta enquanto o Mundo percorre a sua órbita. A cruz que está firme no mundo simboliza a firmeza na contínua agitação dos homens, das ideias, das coisas. A cruz erguida acima do redemoinho de coisas humanas que passam, dos prazeres humanos que são efêmeros, das vaidades humanas que perecem, a cruz erguida, alta, imóvel é carregada, apoiada, levantada não pelo mundo instável, mas por almas estáveis ​​em seus propósitos, consagradas à oração, devotadas ao sacrifício, chamadas a exaltá-la acima do mundo Abandonar as realidades fugazes e procurar capturar o eterno. O mundo gira, evolui e transforma-se, mas a cruz permanece sempre com o mesmo significado espiritual, o mesmo valor redentor e o mesmo poder de atracção. (…)” Cristo é imutável: Christus heri et hodie, Principium et Finis, Alpha et Omega, ipsius sunt tempora et saecula (Cristo ontem e hoje, princípio e fim,
  Cidade do Vaticano, 21 dez 2023 (Ecclesia) – O Papa destacou hoje a sobriedade e a alegria do presépio, a partir da iniciativa de São Francisco de Assis, alertando para que o risco de perder-se o que é importante na vida “e paradoxalmente aumenta perto do Natal”. “O presépio foi criado para nos trazer de volta ao que importa: a Deus que vem morar entre nós, mas também às outras relações essenciais, como a família, presente em Jesus, José e Maria, e os entes queridos, representados pelos pastores”, disse Francisco, na audiência pública semana, no Vaticano. “As pessoas antes das coisas, as pessoas assim como são”, acrescentou o Papa, indicando que as personagens do presépio “são simples, pobres, e estão em harmonia com a criação”, a paisagem ocupa o maior espaço e o boi e o burro nunca faltam”. “É bom ficar em frente do presépio para reorganizar a vida voltando ao essencial. É como entrar num oásis para escapar da agitação diária, para encontrar a paz na oração e no silêncio, numa tern