É claro, [...], que a oração autêntica germina onde está a escuta. «Fala, Senhor, porque o teu servo escuta-te» (1 Samuel 3,9): este é o primeiro ato da oração, que nós – infelizmente – estamos constantemente tentados a inverter: «Escuta, Senhor, porque o teu servo fala». Sim, a escuta é oração e tem um primado absoluto, enquanto reconhece a iniciativa de Deus, o facto de Deus ser o sujeito do nosso encontro com Ele: não é passividade, mas resposta ativa, ação por excelência da criatura em relação ao seu Criador e Senhor.
É significativo que, ao convite dirigido por Deus para lhe apresentar pedidos, o jovem rei Salomão tenha replicado pedindo um “lev shomea’”, «um coração capaz de escutar»; e ao Senhor agradou esta oração. É, com efeito, o pedido altamente grato ao Senhor na nossa oração, porque é o pedido que é gerado pela vontade de Deus, é o pedido primordial, a necessidade primeira e fundamental, o pressuposto da fé: não por acaso, Paulo dirá que «a fé nasce da escuta». Compreende-se, então, porque, interrogado sobre qual era o primeiro mandamento, Jesus tenha respondido, antes de tudo, «escuta!», bem sabendo que de tal capacidade descende também a de conhecer e amar o Senhor Deus e o próximo.
Enzo Bianchi
In Perché pregare, come pregare, ed. San Paolo
Trad.: Rui Jorge Martins:
In Perché pregare, come pregare, ed. San Paolo
Trad.: Rui Jorge Martins: