Fernando Pessoa
I. O INFANTE
I
O INFANTE
Deus quer, o
homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a
terra fosse toda uma,
Que o mar
unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e
foste desvendando a espuma.
E a orla branca
foi de ilha em continente,
Clareou,
correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra
inteira, de repente,
Surgir, redonda,
do azul profundo.
Quem te sagrou
criou-te português.
Do mar e nós em
ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o
Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta
cumprir-se Portugal!