CRISTO, SÓ!
O conhecimento de Deus na contemplação mística é tão diferente do que nos vem do estudo teológico, que S. João da Cruz os chama em certo sentido “contrários”. Assim, quem pensa poder atingir pela inteligência, instrução e capacidade, o supremo fim de toda teologia, que é a contemplação, tem os olhos cegos por um apego, por uma fonte de ilusão, que faz de sua alma “pura obscuridade aos olhos de Deus”, e lhe retira toda capacidade de “iluminação pela pura luz de Deus.”
Nessa linha de pensamento, ele volta ao que é, de fato, o tema da “Subida do Monte Carmelo”, que toda vida ascética e mística é uma reprodução da vida do Cristo na terra, porque ela esvazia e “aniquila” a alma para uni-la a Deus. Aos olhos do nosso santo, imitação do Cristo só diz absoluta renúncia. O único meio de progredir nos caminhos do espírito é avançar nessa imitação do Cristo, pois “ninguém vai ao Pai senão por Ele”.
“Cristo é o Caminho, e esse Caminho é morte para o nosso eu natural tanto nas coisas dos sentidos como nas do espírito”. Mesmo os que abraçam uma vida dura por amor do Cristo e se consideram seus amigos, conhecem-No muito pouco, diz o santo Carmelita, pois aspiram mais a consolações espirituais do que a uma participação em sua Cruz. Se é assim com os “amigos”, que se dirá dos outros?
Thomas Merton
Ascensão para a verdade, p. 62-63