No seu currículo só inclui uma coisa, quando lhe é perguntado, insistentemente, quem é: «Eu sou voz de alguém que grita no deserto: endireitai os caminhos do Senhor…».
Eis o currículo de João, aquilo que sabe e quer fazer: é uma voz que grita. A sua tarefa é dar voz a uma mensagem que não é a sua, não lhe pertence nem é sua criação. Daquela mensagem, ele é só a voz, comunicação através de palavras e opções concretas de vida.
Desde sempre o ser humano procura apresentar-se a si mesmo aumentando a sua força, as suas qualidades, os títulos… Ainda hoje nenhum de nós escapa a esta tentação de aparentar mais do que é e que é capaz de fazer, escondendo o mais possível defeitos e erros. Nenhum de nós apresentaria a um futuro dador de trabalho um currículo com «não sou… não sou capaz de…», e, seguramente, faríamos de tudo para dar a melhor imagem possível de si, impecável.
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Que currículo poderemos dar de nós próprios a Deus, para o impressionar positivamente? Um longo elenco de méritos, orações, liturgia participadas, pecados não cometidos?
O currículo de João tem uma só linha, «sou voz que grita». Isto é o que me é pedido por Deus: «ser voz», «dar voz» à mensagem do Evangelho, que precisa das minhas palavras e dos meus gestos para ser comunicado. Não possuo o Evangelho, não fui eu que criei os ensinamentos da fé, mas posso ser a sua voz se autenticamente nele acredito e o vivo. O terceiro domingo do Advento é, liturgicamente, dito «da alegria», para recordar-nos que ser alegres é um aspeto fundamental que, isto sim, não pode estar ausente no nosso currículo de bom cristão.
P. Giovanni Berti
In Gioba
Trad.: Rui Jorge Martins