O FOGO TRAZIDO POR JESUS
(José Antonio Pagola)
"Para que serve uma Igreja de cristãos confortavelmente instalados na vida, sem qualquer paixão por Deus e sem compaixão por aqueles que sofrem? Qual é a necessidade de cristãos no mundo que são incapazes de atrair, dar luz ou oferecer calor? (...)"
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«Ao longo dos caminhos da Galileia Jesus esforçava-se por transmitir o "fogo" que ardia no seu coração. Na tradição cristã permaneceram diversos vestígios do seu desejo. Lucas recolhe-o desta forma: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lucas 12:49). Um evangelho apócrifo posterior lembra outro dito que talvez tenha vindo de Jesus: "Aquele que está perto de mim está perto do fogo. Aquele que está longe de mim está longe do reino".
Jesus deseja que o fogo que leva no seu interior incendeie de verdade, que não seja extinto por ninguém, que se espalhe por toda a terra e que o mundo inteiro seja abrasado. Quem se aproxima de Jesus com os olhos abertos e o coração desperto descobre que o "fogo" que arde dentro dele é paixão por Deus e compaixão por aqueles que sofrem. É isto que o move e o faz viver em busca do Reino de Deus e da sua justiça até à morte.
A paixão por Deus e pelos pobres vem de Jesus, e só se acende nos seus seguidores pelo contacto com o seu Evangelho e o seu espírito renovador. Vai além do convencional. Tem pouco a ver com a rotina da boa ordem e a frieza do normativo. Sem este fogo, a vida cristã acaba por se extinguir.
O grande pecado dos cristãos será sempre deixar que este fogo de Jesus se vá apagando. Para que serve uma Igreja de cristãos confortavelmente instalados na vida, sem qualquer paixão por Deus e sem compaixão por aqueles que sofrem? Qual é a necessidade de cristãos no mundo que são incapazes de atrair, dar luz ou oferecer calor?
As palavras de Jesus convidam-nos a deixar-nos incendiar pelo seu Espírito sem nos perdermos em questões secundárias ou marginais. Quem ainda não se deixou queimar por Jesus não conhece o poder transformador que ele quis introduzir na Terra. Pode praticar corretamente a religião cristã, mas ainda não descobriu o mais apaixonante do Evangelho.»
José Antonio Pagola, in "O Caminho Aberto por Jesus"