Muita Igreja e pouco reino
Confesso que me fazem muita impressão aquelas dedicatórias e homenagens a pessoas boas e a boas pessoas que "serviram a Igreja", quando afinal é a Igreja que está (deve estar) no mundo para servir... a expansão deste Reino. Isso não significa conquista de território ou de influência de poder, mas a expansão do bem integral da humanidade.
A linguagem é realmente uma fonte de mal-entendidos, bem o sei.
Mas este linguajar clerical releva e revela ambiguidades
que se escondem nas nossas frases ainda não permeadas suficientemente pela lógica do Evangelho.
Eu preferia dizer que essas pessoas da Igreja serviram o Reino de Deus. E algumas sim, merecem todo o reconhecimento, não é isso sequer que está em causa.
O Absoluto é mesmo o Reino de Deus e o resto é acréscimo.
O Reino estava no centro da ação e da pregação de Jesus.
E a Igreja é apenas o "sinal", "instrumento", "mediação", "sacramento" desse Reino, inaugurado por Jesus.
O objetivo é a implantação do Reino (do reinar de Deus, cujo amor transforma o mundo).
O resto são meios, inclusive, a Igreja.
Ora este Reino é mais do que a Igreja. Há lugares onde há pouca Igreja e muito Reino e lugares onde há muita Igreja e pouco Reino.
A pandemia, por exemplo, revelou-nos uma santidade heróica em terreno não "ocupado" pela Igreja.
Por isso, fico feliz quando leio na Vida Nueva o Cardeal de Rabat dizer:
"Como bispo não trabalho pela Igreja nem para a Igreja.
Trabalho em Igreja e como Igreja que sou em favor do Reino.
A Igreja é sinal desse Reino, mas não é o Reino".
Graças a Deus.
Amaro Gonçalo Ferreira Lopes