"Por uma série de razões, que aqui não há lugar para explicar, a eucaristia se deformou na Igreja até o ponto em que já é praticamente impossível reconhecer o que fez Jesus. E não falamos se se trata de uma missa pontifical solene numa catedral. O problema está em que a eucaristia teve sua origem nas comidas de Jesus com as pessoas, especialmente na multiplicação dos pães e na ceia de despedida. Mas tudo isso desapareceu. E a comida compartilhada converteu-se em um cerimonial religioso que além disso não se entende e a muita gente nem interessa. Ademais, a missa se organizou de forma que a atenção dos crentes se centra na presença de Jesus Cristo e na comunhão. Outros, o que desejam é que a missa lhes aproveite para que fiquem melhores, para rezar para um defunto ou quiçá outra intenção. Assim são as coisas, a muitos que vão à missa não lhes interessa o que de verdade quis Jesus: a comensalidade, a mesa compartilhada, destinada a construir uma comunidade humana baseada, não na religiosidade, nem na piedade e devoção, e menos ainda na submissão ao poder sacerdotal. A comensalidade de Jesus com todos, começando pelos pecadores e descrentes, foi pensada para construir a convivência e as relações humanas sobre a bondade, o respeito, a ajuda mútua e a solidariedade. Jesus se faz presente na eucaristia. Por isso, o direito dos cristãos a celebrar a presença de Jesus entre eles se coloca antes do privilégio dos sacerdotes em presidir a missa. Cada dia há menos sacerdotes e mais cristãos sem eucaristia. E sobretudo mais pessoas que nem interessa ir à missa. A Igreja está se desmoronando por si mesma.
(José Maria Castillo, 1929-, Espanha)