"As palavras de Jesus revelam uma tentação e oferecem uma exortação. A tentação é o fechamento. Os discípulos desejavam impedir uma obra de bem só porque a pessoa que a realizava não pertencia ao seu grupo. Eles pensam que têm “direitos exclusivos sobre Jesus” e que são os únicos autorizados a trabalhar pelo Reino de Deus. Mas deste modo acabam por se sentir prediletos e consideram os outros como estranhos, a ponto de se tornarem hostis para com eles. Com efeito, irmãos e irmãs, cada fechamento afasta quantos não pensam como nós. E isto - como sabemos - é a raiz de tantos males da história: a partir do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tantas violências para com aqueles que são diferentes.
Mas também devemos vigiar sobre o fechamento na Igreja. Porque o diabo, que é o divisor - é isso que a palavra “diabo” significa, ele faz divisão - insinua sempre suspeitas para dividir e excluir pessoas. Ele tenta com astúcia, e pode acontecer como com aqueles discípulos, que chegam ao ponto de excluir até quantos tinham expulsado o próprio diabo! Por vezes também nós, em vez de sermos comunidades humildes e abertas, podemos dar a impressão de sermos “os melhores da classe” e manter os outros à distância; em vez de procurarmos caminhar com todos, podemos exibir a nossa “carta de condução de crentes”: “sou crente”, “sou católico”, “sou católica”, “pertenço a esta associação, àquela outra...”; e os outros, pobrezinhos, não. Isto é um pecado. Exibir a “carta de condução de crentes” para julgar e excluir. Peçamos a graça de superar a tentação de julgar e de catalogar, e que Deus nos preserve da mentalidade do “ninho”, a de nos preservarmos ciosamente no pequeno grupo daqueles que se consideram bons: o sacerdote com os seus fidelíssimos, os agentes pastorais fechados entre si para que ninguém se infiltre, os movimentos e as associações no próprio carisma particular, e assim por diante. Fechados. Tudo isto corre o risco de tornar as comunidades cristãs lugares de separação e não de comunhão. O Espírito Santo não quer fechamentos; quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja lugar para todos."
Pequeno grupo dos que se consideram os bons.
O risco é ser inflexível para com os outros e indulgentes para com nós mesmos.