A honra do jejum não consiste apenas na abstinência da comida, mas também em evitar as acções pecaminosas; quem limita o seu jejum apenas à abstinência de carnes desonra-o. Praticas o jejum? Prova-me através das tuas obras! Perguntas que tipo de obras?
Se vires um inimigo, reconcilia-te com ele! Se vires um amigo tendo sucesso, não o invejes! Se vires uma mulher bonita, passa por ela sem olhar!
Que não apenas a boca jejue, mas também os olhos, e os ouvidos, e os pés, e as mãos, e todos os membros dos nossos corpos.
Que as mãos jejuem sendo puras da avareza e da rapina. Que os pés jejuem, deixando de caminhar para espectáculos imorais. Que os olhos jejuem, não se detendo sobre feições belas ou ocupando de belezas exóticas.
Pois o que é visto é a comida dos olhos, mas se o que for visto for imoral ou proibido, macula-se o jejum e perturba-se toda a segurança da alma. Mas se for moral e seguro, o que é visto adorna o jejum.
Pois seria absurdo abster-se da comida permitida por causa do jejum, mas devem os olhos abster-se até de tocar o que é proibido. Não comes carne? Então não te alimentes da luxúria através dos olhos.
Que também os ouvidos jejuem. O jejum dos ouvidos consiste em recusar-se a ouvir assuntos perversos e calúnias. ‘Não receberás notícias falsas’, já foi dito.
Que a boca também jejue de dizer coisas vergonhosas e de fazer reclamações. Pois, o que ganhas se te absténs de pássaros e peixes, e mesmo assim mordes e devoras o teu próximo? O que usa da má-língua come a carne do seu irmão e morde o corpo do seu próximo.
São João Crisóstomo