Por que te amo, ó Maria!
Poesia 54
1. Oh! Quisera cantar, Maria, por que te amo
Porque é que o teu nome tão doce me faz vibrar o coração
E porque é que o pensamento da tua grandeza suprema
Não poderia inspirar à minha alma o sentimento do temor.
Se eu te contemplasse na tua sublime glória
E mais brilhante do que todos os bem-aventurados,
Não poderia acreditar que sou tua filha
Ò Maria, diante de ti, eu baixaria os olhos!...
2. É preciso que uma filha possa amar a sua mãe
Que esta chore com ela, partilhe as suas dores
Ò minha Mãe querida, na terra estrangeira
Para me atraíres a ti, quanto chorastes!...
Meditando a tua vida no santo Evangelho
Ouso olhar-te e aproximar-me de ti
Acreditar que sou tua filha não me é difícil
Pois vejo-te mortal e sofrendo como eu...
3. Quando um anjo do Céu te oferece seres a Mãe
Do deus que há-de reinar por toda a eternidade
Vejo-te preferir, Ó Maria, que mistério!
O inefável tesouro da virgindade.
Compreendo que a tua alma, ò Virgem Imaculada
Seja mais querida ao senhor do que a divina morada
Compreendo que a tua alma, Humilde e Manso Vale
Possa conter Jesus, o Oceano do Amor!...
4. Oh! Amo-te, Maria, quando te dizes a serva
Do Deus que tu deslumbras com a tua humildade
Esta virtude oculta torna-te onipotente
Atrai ao teu coração a Santíssima Trindade
Então o Espírito de Amor cobrindo-te com a sua sombra
O Filho igual ao pai em ti encarnou...
Grande será o número dos seus irmãos pecadores
Já que se Lhe há-de chamar: Jesus, o teu primogênito!...
5. Ó Mãe bem-amada, apesar da minha pequenez
Como tu possuo em mim o Onipotente
Mas eu tremo ao ver a minha fraqueza:
O tesouro da mãe pertence ao filho
E eu sou tua filha, ó minha Mãe querida!
As tuas virtudes, o teu amor, acaso não são meus?
Por isso quando a Hóstia branca vem ao meu coração
Jesus, o teu Manso Cordeiro, julga repousar em ti!...
6. Fazes-me sentir que não é impossível
Seguir os teus passos, ó Rainha dos eleitos,
O estreito caminho do Céu, tornaste-o visível
Praticando sempre as mais humildes virtudes.
Junto de ti, Maria, gosto de permanecer pequena,
Das grandezas da terra vejo toda a vaidade
Em casa de Santa Isabel, recebendo a tua visita,
Aprendo a praticar a ardente caridade.
7. Lá escuto encantada, Doce Rainha dos anjos,
O cântico sagrado que brota do teu coração
Ensinas-me a cantar os divinos louvores
A glorificar-me em Jesus meu Salvador.
As tuas palavras de amor são místicas rosas
Que hão de aromatizar os séculos futuros.
Em ti o Onipotente fez grandes coisas
Quero meditá-las, para O bendizer.
8. Quando São José ignora o prodígio
Que com a tua humildade querias ocultar
Deixa-lo chorar junto ao Tabernáculo
Que esconde a divina beleza do Senhor!...
Oh! Como eu amo, Maria, o teu silêncio eloqüente,
Para mim é um concerto doce e melodioso
Que me revela a grandeza e a onipotência
De uma alma que só espera o seu auxílio dos Céus...
9. Mais tarde em Belém, ó José e Maria!
Vejo-vos rejeitados por todos os habitantes
Ninguém quer receber na sua hospedaria
Uns pobres estrangeiros, o lugar é para os grandes...
O lugar é para os grandes e é num estábulo
Que a Rainha dos Céus dará à luz um deus.
Ó minha Mãe querida, quão amável me pareces
Como te acho grande num lugar tão pobre!...
10. Quando vejo o Eterno envolvo em paninhos
Quando do Verbo Divino ouço o débil vagido,
Ó minha Mãe querida, já não invejo os anjos
Pois o seu Poderoso Senhor é o meu Irmão querido!...
Como te amo, Maria, tu que na terra
Fizeste desabrochar esta Divina Flor!...
Como te amo quando escutas os pastores e os magos
E guardas todas as coisas no teu coração!...
11. Amo-te quando te misturas com as outras mulheres
Que para o santo templo dirigiram os passos
Amo-te quando apresentas o Salvador das nossas almas
Ao ditoso Ancião que o aperta nos braços,
A princípio sorrindo escuto o seu cântico
Mas depressa o seu tom me faz derramar lágrimas.
Mergulhando no futuro um olhar profético
Simeão apresenta-te uma espada de dores.
12. Ó rainha dos mártires, até ao fim da vida
Esta espada dolorosa trespassará o teu coração
Tens já de deixar o solo da tua pátria
Para evitares de um rei o furor invejoso.
Jesus dormita em paz sob as pregas do teu véu
José vem pedir-te para partires depressa
E a tua obediência logo se revela
Partes sem demora e sem objeção.
13. Na terra do Egito, parece-me, ó Maria
Que na pobreza o teu coração continua feliz,
Pois não é Jesus a nossa formosa Pátria,
Que te importa o exílio se tu possuís os Céus?...
Mas em Jerusalém, uma tristeza amarga
Como um vasto oceano te inunda o coração
Jesus, durante três dias, esconde-se da tua ternura
É então o exílio em todo o seu rigor!...
14. Enfim encontra-lo e a alegria invade-te,
Dizes ao lindo menino que deslumbra os doutores:
“Ò meu Filho,porque procedeste assim?”.
“Teu pai e eu procurávamos-Te chorando.”
E o Deus Menino responde (que profundo mistério!)
Á Mãe querida que Lhe estende os braços:
“Porque me procuráveis?... Das coisas do meu Pai
É preciso que Eu me ocupe; não o sabeis já?”
15. O Evangelho ensina-me que crescendo em sabedoria
A José, a Maria, Jesus continua submisso
E o coração revela-me com que ternura
Sempre obedeceu aos seus queridos pais.
Agora compreendo o mistério do tempo,
As palavras ocultas de um amável Rei.
Mãe, o teu doce Filho quer que sejas o exemplo
Da alma que O procura na noite da fé.
16. Já que o Rei dos Céus quis que a sua Mãe
Mergulhasse na noite, na angústia do coração,
Maria, é então um bem sofrer na terra?
Sim, sofrer amando, é a felicidade mais pura!...
Tudo o que Ele me deu Jesus pode tomá-lo
Diz-lhe que nunca Se constranja comigo...
Ele pode esconder-Se, eu consinto em esperá-l’O
Até ao dia sem ocaso em que se extinguirá a fé...
17. Sei que em Nazaré, Mãe cheia de graça
Viveste pobremente, não querendo nada mais
Nem arroubamentos, nem milagres, nem êxtases
Embelezam a tua vida, Ó Rainha dos Eleitos!...
O número dos pequenos é bem grande na terra
Eles podem sem receio erguer os olhos para ti
É pela via comum, incomparável Mãe
Que te apraz caminhar guiando-os para o Céu.
18. Esperando o Céu, ó minha Mãe querida,
Quero viver contigo, seguir-te em cada dia
Mãe, ao contemplar-te, afundo-me absorta
Descobrindo no teu coração abismos de amor.
O teu olhar maternal desvanece os meios receios
Ensina-me a chorar, e a regozijar-me.
Em vez de desprezar as alegrias puras e santas
Tu queres partilhá-las, dignas-te abençoá-las.
19. Ao veres a aflição dos esposos de Caná
Que não podem esconder, pois falta-lhes o vinho
Ao Salvador o dizes com solicitude
Esperando o auxílio do seu poder divino.
Jesus parece a princípio rejeitar o pedido
“Mulher, que nos importa”, responde Ele, “a vós e a Mim?”
Mas no fundo do coração, chama-te sua Mãe
E o seu primeiro milagre, realiza-o por ti.
20. Num dia em que os pecadores escutam a doutrina
D’Aquele que deseja recebê-lo no Céu
Encontro-te com eles, Maria, na colina
Alguém diz a Jesus que tu querias vê-lo.
Então, o teu Divino Filho diante da multidão
Do seu amor por nós mostra a imensidade
Diz: “Quem é meu irmão e minha irmã e minha Mãe,
“Senão aquele que faz a minha vontade?”
21. Ó Virgem Imaculada, a mais terna das mães
Ao ouvir Jesus, não te entristeces
Mas alegras-te porque Ele nos faz compreender
Que a nossa alma se torna a sua família na terra
Sim, alegras-te por Ele nos dar a sua vida,
Os tesouros infinitos da sua divindade!...
Como não te amar, ó minha Mãe querida
Ao ver tanto amor e tanta humildade?
22. Amas-nos, Maria, como Jesus nos ama
E consentes por nós em afastar-te d’Ele.
Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo
Quiseste demonstrá-lo ficando conosco.
O Salvador conhecia a tua ternura imensa
Sabia os segredos do teu coração maternal
Refúgio dos pecadores, é a ti que Ele nos deixa
Quando abandona a Cruz para nos esperar no Céu.
23. Maria, apareces-me no cimo do Calvário
De pé junto da Cruz, como um padre no altar
Oferecendo para desagravar a justiça do Pai
O teu Bem-amado Jesus, o doce Emanuel!...
Um profeta o disse, ó Mãe sofredora,
“Não há dor semelhante à tua dor!”
Ó Rainha dos Mártires, permanecendo exilada
Dás por nós o sangue todo do teu coração!
24. A casa de São João torna-se o teu último abrigo
O filho de Zebedeu terá de substituir Jesus...
É a última informação que dá o Evangelho
Da Rainha dos Céus não fala mais.
Mas o seu profundo silêncio, ó minha Mãe querida
Não revela por ventura que o Verbo Eterno
Quer Ele próprio canta os segredos da tua vida
Para gozo dos teus filhos, todos os Eleitos do Céu?
25. Em breve eu ouvirei esta doce harmonia
Em breve no Céu formoso eu irei ver-Te
Tu que vieste sorrir-me na manhã da minha vida
Vem sorrir-me de novo... Mãe... chegou a tarde!...
Já não temo o esplendor da tua glória suprema
Contigo eu sofri e desejo agora
Cantar nos teus joelhos, Maria, por que te amo
E repetir para sempre que sou tua filha!...