"Não se vê Deus em algum lugar, mas com o coração puro. Não se procura Deus com olhos corpóreos, pois ele nem se circunscreve pela visão, nem se apreende pelo tato, nem se ouve pelo discurso, nem se percebe pelo andar. Quando se pensa que ele está ausente, é visto; quando ele está presente, não é visto. [...] mas porque a Verdade clama sem ruído, reconhece, à medida que compreendes, donde possas aderir ao Senhor e prepara para ti mesma, interiormente, o lugar incorpóreo de sua morada, para que ouças o silêncio de sua narrativa, e para que contemples sua forma invisível. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus [Mt 5,8]: não porque lhes aparecerá, como um corpo saído dalgum espaço físico, mas porque virá até eles e fará morada junto a eles, pois assim serão completamente tomados até à plenitude de Deus, não porque eles mesmos se tornarão o Deus pleno, mas porque se tornarão perfeitamente plenos de Deus. [...] Porém, se não pensamos senão coisas corpóreas, e nem mesmo isso podemos pensar dignamente, isto é, donde é que pensamos as coisas corpóreas, não procuremos o que falar contra nós mesmos, mas antes purifiquemos nossos corações deste mesmo hábito carnal orando e avançando para as coisas que estão adiante."
Agostinho (Carta 147, a Paulina)