Santo Agostinho (354-430)
bispo de Hipona (norte de
África), doutor da Igreja
Homilias sobre São João
«O meu reino não é deste
mundo»
Escutai todos, judeus e
gentios [...]; escutai, todos os reinos da Terra! Eu não impeço o vosso domínio
sobre este mundo, «o meu reino não é deste mundo». Não temais, pois, com esse
medo insensato que dominou Herodes quando lhe anunciaram o meu nascimento.
[...] Não, diz o Salvador, «o meu reino
não é deste mundo». Vinde todos a um reino que não é deste mundo; vinde a ele pela
fé; que o medo não vos torne cruéis. É verdade que, numa profecia, o Filho de
Deus diz, falando do Pai: «Por Ele, fui eleito rei sobre Sião, sobre a montanha
sagrada» (Sl 2,6). Mas essa Sião e essa montanha não são deste mundo.
Com efeito, o que é o seu
reino? São os que acreditam nele, aqueles a quem Ele diz: vós não sois do
mundo, tal como Eu não sou do mundo (cf Jo 17,16). E, contudo, Ele quer que
estejam no mundo e diz ao Pai: «Não Te peço que os retires do mundo, mas que os
guardes do mal» (Jo 17,15). É que Ele não disse: «O meu reino não está neste
mundo», mas sim «não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus
guardas lutariam para que Eu não fosse entregue».
Na verdade, o seu reino
está aqui na Terra até ao fim do mundo; até à colheita, o joio está misturado
com o trigo (cf Mt 13,24s). [...] O seu reino não é deste mundo porque Ele é
como um viajante neste mundo. Àqueles sobre quem reina, diz: «Não sois do
mundo, pois escolhi-vos do meio do mundo» (Jo 15,19). Eles eram, portanto, deste
mundo, quando ainda não eram do seu reino, mas pertenciam ao príncipe deste
mundo. [...] Todos os que são gerados da raça de Adão pecador pertencem a este
mundo; todos os que foram regenerados em Jesus Cristo pertencem ao seu reino e
já não são deste mundo. Pois «Deus arrancou-nos efetivamente do poder das
trevas e transportou-nos para o reino de seu Filho muito amado» (Col 1,13).