Todos nós preferimos elogios a censuras, mas o cristão em seu caminho de fé aceita ser corrigido diariamente. Na homilia de hoje na Santa Marta, Francisco recorda as palavras fortes de São João Evangelista, que chama de "mentiroso" àqueles que dizem amar a Deus que não veem e não amam o irmão a quem veem: "Ser mentiroso - especifica - é precisamente o jeito de ser do diabo: é o Grande Mentiroso ... o pai da mentira".
Ninguém gosta de ser chamado de mentiroso: mas é a humildade da fé que faz o cristão caminhar no difícil caminho da conversão, na consciência de que o próprio Deus, em ter nos amado primeiro, preenche a grande distância que existe entre o seu e o nosso amor, que tantas vezes não quer sujar as mãos - afirma o Papa - para fazer o bem de maneira concreta.
Nossas faltas no amor, nossos pecados, são imediatamente revelados pelo nosso modo de falar, disse o Papa na homilia de ontem na Santa Marta. Talvez rezemos pela paz no mundo - observa - mas semeamos a guerra na família, no bairro, no local de trabalho, falando mal dos outros e condenando: quando o diabo consegue com que façamos a guerra - disse Francisco - "está feliz, não precisa mais trabalhar", porque "somos nós que trabalhamos para nos destruir um ao outro", destruindo em primeiro a nós mesmos, “porque retiramos o amor", e depois os outros.
Nossas palavras revelam quem somos: se permanecermos no Senhor - sublinha o Papa - e "escorregamos em um pecado ou defeito, o Espírito nos fará conhecer esse erro". O amor verdadeiro é o que nos leva a falar "bem" dos outros e "se eu não posso falar bem", nos faz fechar a boca.
Diante das nossas dificuldades e dos problemas do mundo, nos deve sustentar sempre a esperança de que "o mal, o sofrimento e a morte não prevalecerão", disse o Papa ontem em seu discurso ao Corpo Diplomático. É a esperança que vem de "uma criança recém-nascida", do Deus feito homem, que "nos convida à alegria", mas também à coragem de enfrentar os problemas com realismo para construir um mundo mais justo, mais pacificado e mais fraterno. É preciso "unir esforços" para superar "uma cultura da divisão que distancia as pessoas umas das outras e abre caminho ao extremismo e à violência. Vemos isso cada vez mais - disse o Papa - na linguagem do ódio amplamente usada na internet e nas redes sociais. Às barreiras do ódio, preferimos as pontes da reconciliação e da solidariedade".
Diante dos representantes da comunidade internacional, o Papa recorda que este ano marca o 70º aniversário da proclamação da Assunção da Virgem Maria no céu: "A Assunção de Maria nos convida ... a olhar além, ao final de nosso caminho terreno, no dia em que a justiça e a paz serão totalmente restauradas ". É precisamente nessa luz "que não podemos deixar de ter esperança" e de construir aqui na terra uma humanidade fraterna, fazendo "o bem comum prevalecer sobre interesses particulares". Então a paz não será mais uma utopia, mas uma meta possível.
A fé nos ajuda a acreditar que sempre vale a pena comprometer-se para construir, mesmo onde o mal e o fracasso parecem prevalecer. O Papa falou sobre isso na Audiência Geral na quarta-feira, 8 de janeiro. A catequese é dedicada à viagem por mar de São Paulo para desembarcar em Roma, conforme relatado pelos Atos dos Apóstolos: "A navegação - disse Francisco - encontrou condições desfavoráveis desde o início. A viagem se torna perigosa. Paulo aconselha a não prosseguir a viagem, mas o centurião não lhe dá crédito e confia no timoneiro e no proprietário. A viagem continua e começa um vento tão impetuoso que a tripulação perde o controle e o navio fica à deriva." Quando "a morte parece estar próxima e o desespero toma conta de todos", Paulo intervém com palavras de grande fé: Todos serão salvos!
"O naufrágio, de uma situação de infortúnio, transforma-se em uma oportunidade providencial para o anúncio do Evangelho". É uma lei do Evangelho, recorda Francisco: "Quando um crente faz a experiência da salvação, não a guarda para si, mas a divulga". Porque "Deus pode agir em qualquer circunstância, mesmo em meio aos aparentes fracassos".