O Saltério apresenta a oração como a realidade fundamental da vida. A referência ao absoluto e ao transcendente - a que os mestres da ascese denominam “temor sagrado de Deus” - é o que nos torna plenamente humanos, é o limite que nos salva de nós mesmos, impedindo que nos aventuremos nesta vida de modo predatório e voraz. A oração é a salvação do ser humano!
Certamente,
existe também uma oração falsa, uma prece feita apenas para sermos admirados
pelos outros. Aquele ou aqueles que vão à missa apenas para mostrar que são
católicos ou para exibir o último modelo que compraram, ou para fazer uma boa
figura social. Esses vão a uma oração falsa. Jesus advertiu fortemente a este
respeito (cf. Mt 6, 5-6; Lc 9, 14). Mas quando o verdadeiro
espírito de oração é acolhido com sinceridade e entra no coração, então faz-nos
contemplar a realidade com o olhar do próprio Deus.
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Quando
rezamos, tudo adquire “profundidade”. Isto é curioso na oração, talvez
comecemos por uma coisa subtil, mas na oração essa coisa adquire espessura,
adquire peso, como se Deus a tomasse nas Suas mãos e a transformasse. O pior
serviço que pode ser prestado, a Deus e também ao homem, é rezar com tédio, de
maneira habitudinária. Rezar como papagaios. Não, reza-se com o coração. A
oração é o centro da vida. Se houver oração, o irmão, a irmã, até o inimigo,
torna- se importante. Um antigo ditado dos primeiros monges cristãos reza:
«Abençoado é o monge que, depois de Deus, considera todos os homens como Deus»
(Evágrio Pôntico, Tratado sobre a Oração,
n. 123). Quem adora Deus, ama os seus filhos. Quem respeita Deus, respeita os
seres humanos.
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A Sagrada
Escritura é categórica:
«Mas
amamos, porque Deus nos amou primeiro - Ele está sempre à nossa frente. Ele
espera sempre por nós porque nos ama primeiro, ele olha para nós primeiro, ele
compreende-nos primeiro. Ele espera sempre por nós - Se alguém disser: “Amo a
Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama o seu
irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. - Se rezas muitos
terços por dia mas depois falas mal de outros, e depois sentes rancor interior,
ódio contra o próximo, isto é puro artifício, não é verdadeiro. - De Deus
recebemos este mandamento: aquele que amar a Deus, ame também ao seu irmão» (1 Jo 4, 19-21). A Escritura admite o
caso de uma pessoa que, mesmo procurando sinceramente a Deus, nunca consegue
encontrá-lo; mas afirma também que nunca se pode negar as lágrimas dos pobres,
sob pena de não encontrar a Deus. Deus não suporta o “ateísmo” daqueles que
negam a imagem divina impressa em cada ser humano. Aquele ateísmo quotidiano:
acredito em Deus, mas com os outros mantenho a minha distância e permito-me
odiar os outros. Isto é ateísmo prático. Deixar de reconhecer a pessoa humana
como imagem de Deus é um sacrilégio, uma abominação, é a pior ofensa que se pode
levar ao templo e ao altar. Pp Francisco