erça-feira, 28 de abril de 2020
Introdução
Neste tempo, em que começamos a ter orientações para sair da quarentena, peçamos ao Senhor que conceda ao seu povo, a todos nós, a graça da prudência e da obediência às disposições, para que a pandemia não se agrave.
Homilia
Na primeira leitura destes dias, ouvimos o martírio de Estêvão: um evento simples, como aconteceu. Os doutores da Lei não toleravam a clareza da doutrina, e assim que ela foi proclamada, foram perguntar a alguém que disse ter ouvido uma pessoa narrar que Estêvão blasfemava contra Deus, contra a Lei (cf. At 6, 11-14). E depois disso, foram contra ele e apedrejaram-no: assim, simplesmente (cf. At 7, 57-58). É a primeira estrutura de ação: eles fizeram o mesmo com Jesus (cf. Mt 26, 60-62). As pessoas que lá estavam procuravam convencer que era um blasfemador e gritavam: «Crucifica-o!» (Mc 15, 13). Trata-se de uma irracionalidade. Uma agressão, começar pelos falsos testemunhos para chegar a “fazer justiça”. Este é o esquema. Também na Bíblia há casos como este: fizeram o mesmo a Susana (cf. Dt 13, 1-64), a Nabote fizeram o mesmo (cf. 1 Rs 21, 1-16), então Hamã procurou fazer o mesmo com o povo de Deus (cf. Est 3, 1-14). Falsas notícias, calúnias que inflamam o povo e exigem justiça. É um linchamento, um verdadeiro linchamento.
E assim, levam-no ao juiz, para que dê forma jurídica: mas já tinha sido julgado; o juiz deve ser muito, muito corajoso para ir contra um julgamento “tão popular”, feito de propósito, preparado. É o caso de Pilatos: Pilatos viu claramente que Jesus era inocente, mas vendo o povo, lavou as mãos (cf. Mt 27, 24-26). É uma forma de fazer jurisprudência. Ainda hoje vemos isto: em alguns países, quando se quer fazer um golpe de Estado ou “eliminar” algum político para que não vá a eleições, faz-se isto: falsa notícia, calúnia, depois confia-se a um juiz daqueles que gostam de criar jurisprudência com este positivismo “situacionalista” que está na moda, e depois condena-se. É um linchamento social. E assim procederam com Estêvão, assim foi feito o julgamento de Estêvão: levam a julgamento alguém já julgado pelo povo enganado.
Isto também acontece com os mártires de hoje: os juízes não têm qualquer hipótese de fazer justiça porque já foram julgados. Pensemos em Asia Bibi, por exemplo, que vimos: dez anos na prisão porque foi julgada por uma calúnia e por um povo que quer a sua morte. Perante esta avalanche de falsas notícias que criam opinião, muitas vezes nada pode ser feito: nada pode ser feito.
Penso muito, nisto, no Shoah. O Shoah é um destes casos: a opinião foi criada contra um povo e depois era normal: «Sim, sim: têm de ser mortos, têm de ser mortos». Uma forma de proceder para “eliminar” pessoas que estão a assediar, que incomodam.
Todos sabemos que isto não é bom, mas o que não sabemos é que há um pequeno linchamento diário que procura condenar as pessoas, criar uma má fama para as pessoas, descartá-las, condená-las: o pequeno linchamento diário da tagarelice que cria uma opinião; muitas vezes ouve-se a conversa de alguém e diz-se: “Mas não, esta pessoa é justa!” - “Não, não: dizem que ...”, e com esse “dizem que” se cria uma opinião para acabar com uma pessoa. A verdade é outra: a verdade é o testemunho do verdadeiro, das coisas que uma pessoa crê; a verdade é clara, é transparente. A verdade não tolera pressões. Olhemos para Estêvão, mártir: primeiro mártir depois de Jesus. Primeiro mártir. Pensemos nos apóstolos: todos deram o seu testemunho. E pensemos nos muitos mártires, também naquele que hoje celebramos, São Pedro Chanel: a tagarelice fez acreditar que ele era contra o rei... cria-se uma fama, e teve que ser eliminado. E pensemos em nós, na nossa língua: muitas vezes nós, com os nossos comentários, começamos um linchamento deste género. E nas nossas instituições cristãs, vimos tantos linchamentos diários que nasceram da tagarelice.
Que o Senhor nos ajude a sermos justos nos nossos julgamentos, a não começar nem seguir esta condenação maciça provocada pela tagarelice.
Oração para fazer a Comunhão espiritual
As pessoas que não podem receber a Eucaristia, agora fazem a Comunhão espiritual
Ó meu Jesus, prostro-me aos vossos pés e ofereço-vos o arrependimento do meu coração contrito que mergulha no vosso coração e na vossa santa presença. Adoro-vos no Sacramento do vosso amor, a inefável Eucaristia. Desejo receber-vos na pobre morada que o meu coração vos oferece. À espera da felicidade da Comunhão sacramental, quero possuir-vos em espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, e que eu venha a Vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, na vida e na morte. Creio em Vós, espero em Vós, amo-vos.